Se existe uma cláusula pétrea em toda a história dos Flatschart no Brasil é a história de que Emmerich Flatschart veio a pé de Minas Gerais para São Paulo.

Quando criança ouvíamos sempre essa história, contada com sotaque alemão pela minha avó Linda, esposa de Emmerich:

Cerrrto que seu avô veio do Minas Gerais a pé…

Fugiu de Minas Gerias devido às péssimas condições do trabalho, veio a pé com um amigo, quando adoeceu no meio do caminho foi roubado e abandonado por esse amigo, ficou jogado na beira da estrada, foi acolhido por uma família que o tratou até a sua recuperação….bem, essa era a versão mais ouvida, mas havia inúmeras variações sobre esse tema 🙂

Talvez a versão definitiva da saga seja essa imortalizada em um trabalho escolar datado de 2012 da autoria de Laura Zaia Flatschart , bisneta de Emmerich:

Trecho de uma redação de
Laura Zaia Flatschart , bisneta de Emmerich Flatschart.
Trecho de uma redação de
Laura Zaia Flatschart , bisneta de Emmerich Flatschart.

Como diz o ditado italiano :

Se non è vero, è ben trovato…
Se não é verdade, é bem contado…
Wenn es nicht wahr ist, so ist es doch gut erfunden…

O que sabemos realmente sobre a “fuga” de Emmerich para São Paulo ? Onde ele estava ? Em qual cidade ? O que fazia lá ? Temos apenas os relato orais, mas podemos juntar algumas peças deste misterioso quebra-cabeça…

1 Emmerich teria ido para São João Dey Rei em Minas Gerais, junto com os demais austríacos que com ele estavam no Gelria, conforme mostra a lista de passageiros do navio. Não se sabe se São João Del Rei era o destino final ou apenas um lugar de referência que ele tinha.

2 Na ficha de desembarque do Gelria no Rio de Janeiro existe em anexo um contrato em português e alemão sobre terras na Colônia Quim-Quim em Uruçu pertencentes a Cia. Mucury no município de Teófilo Otoni em Minas Gerais. Não encontrei nenhum vínculo direto deste documento com Emmerich.


Contrato Colônia Quim-Quim (português)

Contrato Colônia Quim-Quim (alemão)

3 …era necessário povoar a região com lavradores livres, pois era contra a escravidão, e sua empresa “ Companhia do Mucuri” não possuía escravos. Por tanto, contratou a Firma “SCHLOBACH & MORGENSTERN” de um dos países de língua alemã, para recrutar, selecionar e transportar as famílias que teriam aqui, como colonos, amparo em todos os sentidos, por parte da Companhia Mucuri. Além de alemães vieram franceses, suíços, belgas, austríacos, holandeses e chineses das mais variadas profissões como: sapateiro, carpinteiro, ferreiro, oleiros, tecelões, seleiros, boticários, curtidores, padeiros, alfaiates, calceteiros, agrimensores, engenheiros, professores e pintores.

Fonte : Jorge Edim em Porque os alemães vieram para o Vale do Mucuri

4 Em 1922, 1923 e 1924 novas levas de imigrantes aportaram na cidade, trazendo inovação ao já combalido extrato germânico de Teófilo Otoni (novo nome que a cidade recebeu, em homenagem ao seu fundador). Com ânimo alimentado por novas idéias, o progresso retomou seu curso. As famílias se reanimaram com a chegada dos novos elementos, muitos casamentos aconteceram, uma vez que grande parte era de homens solteiros.

Fonte : Nilo Franck em Descendência alemã em Teófilo Otoni – MG – Brasil

5 Capital Mundial das Pedras Preciosas, é como Teófilo Otoni é conhecida, o maior centro de lapidação de pedras do Brasil. Emmerich declarou em seu passaporte a profissão de mineiro (mineur) apesar de declarar jornaleiro na lista de desembarque do navio.

Passaporte de Emmerich Flatschart

6 Não encontrei nenhum indício de imigração alemã / austríaca em São João del Rei, mas inúmeras colônias alemãs na região de Teófilo Otoni. São apenas pistas, algumas peças soltas de um gigante quebra cabeça que não comprovam nada ! Mas nos anos 1920 Teófilo Otoni teria sido um destino muito mais óbvio do que São João del Rei para um grupo de austríacos recém chegados ao Brasil.

7 De verdade e certeza nos resta a história de um jovem de pouco mais de 19 anos que veio de Minas para São Paulo em busca de melhores condições de vida…

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