Emmerich, Linda, Heini e Renato aparecem várias vezes ao lado de um Ford 1937 Coupe, um belo V8 com placa São Paulo – S.P. 1-89-69.
Segundo Alexandre Flatschart, é provável que este modelo, embora fabricado nos EUA, tenha sido montado no Brasil em sistema CKD.
Em 1919, a filial da Argentina transfere um capital de 25 mil dólares para o Brasil para a criação da Ford Motor Company brasileira, que daria seus primeiros passos em nosso país a partir de um pequeno depósito de dois andares na Rua Florêncio de Abreu, em São Paulo, onde iniciou-se a montagem de automóveis Modelo T e caminhões Modelo TT. A empresa tornou-se com isso a primeira fabricante de automóveis a se estabelecer em território nacional. Com projeto do engenheiro americano B.R. Brown, o mesmo que projetou a fábrica da Ford em Highland Park, nos Estados Unidos, era inaugurada em 1921 a grande fábrica brasileira da Ford Motor Company em São Paulo, na Rua Solon, bairro do Bom Retiro
Provavelmente em 1940 ou 1941, Emmerich, Linda e o filhos se mudaram para Vila Prudente onde Emmerich foi contratado para trabalhar como mestre na empresa H. Klein & Cia. LTDA, uma fabricante de escovas de aço localizada na Rua Maria Daffré nº 1A no Bairro de Vila Prudente em São Paulo. Em sua carteira de profissional aparece a contratação em 01 de abril de 1940 e a saída em 31 de janeiro de 1941.
A partir de 1942 Emmerich monta seu próprio negócio, a E. Flatschart & Cia., registrada na JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) sob o número 35500229367 e apesar do objeto da empresa aparecer como “Comércio varejista de material de construção (cal, cimento, areia, pedras, artigos de cerâmica, de plástico, de borracha, sanitários, etc.) ” sabemos que já era uma pequena fábrica de escovas de aço.
Entre alguns papéis remanescentes desta época, temos o envelope de pagamento onde aparece o nome completo da empresa e o endereço Rua Maria Daffré nº 1, o mesmo local da empresa H. Klein & Cia. LTDA, talvez Emmerich a tenha comprado ou usasse as mesmas instalações de seu antigo empregador.
Nesta época, seu cunhado Paul Schmidt, irmão caçula de Linda era seu sócio. Paul, Tio Paulo como sempre o chamávamos, continuou nesse ramo até meados dos anos 1990, época na qual o seu produto carro chefe era um tipo de “Vassoura Mágica” toda metálica.
Devido à dificuldade de importação de produtos e de matéria prima em geral da Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a empresa de Emmerich desenvolveu produtos que atendiam não só o mercado brasileiro, mas também outros países, escovas de aço, agulhas e utensílios de arame que eram exportados através Porto de Santos.
Em 1946 já temos a fábrica na Rua Vinte nº 296, em frente à casa da família, como mostrado a seguir no envelope de pagamento no cartão de visitas.
Neste novo endereço a empresa aparece registrada na JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) a partir de 14/06/1946 sob o número 35105293341 e tendo como objeto “Fabr. de artefatos de trefilados de ferro, aço e metais não-ferrosos (correntes, cabo aço, molas, pregos, tachas, arames, tecidos, telas, arame, etc.) – exclusive prod. padron. e obtidos em tornos autom. (cod.11.42)”.
Minha avó Linda relatava várias histórias das brigas dela com Klee, por exemplo quando ele falou para ela que mulher não tinha que se meter na administração).
Outro fato pitoresco (e macabro) é a história que pelo fato de Klee ser muito alto ele mesmo fazia a piada de quando morresse teria que cortar as pernas para caber no caixão. Segundo minha avó devido a um problema de saúde (provavelmente diabetes) ele teve as duas pernas amputadas!
Segundo meu irmão Alexandre, Linda contava que devido à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) “não podia vir mais nada (importações) de Santos” e graças a criatividade de Emmerich, a empresa substituiu os rolos de arame pelo metal das agulhas usadas que eram descartadas das máquinas das tecelagens família Jafet no Ipiranga. Emmerich então projetou e construiu um dispositivo para cortar as agulhas no tamanho exato para a fabricação das escovas.
Após a morte de meu avô em 1952, Linda ainda a empresa ainda continuou na empresa conforme aparece no formal de partilha de Emmerich Flatschart datado de 1953.
Antes da morte de Linda este documento era o verdadeiro “Santo Graal” da família, todos sabiam que ele existia, mas ninguém, exceto meu pai, tinha acesso a ele!
Em 1954, Linda Flatschart retira-se da sociedade resgatando o valor de CR$ 257.814, 60 a que tinha direito como viúva meeira, conforme publicado no Diário Oficial de 08 de junho de 1954.
Ponto importante! Emmerich naturalizou-se brasileiro em 1940, provavelmente para facilitar a burocracia da abertura da empresa. Nesta época, Heini e Renato já eram nascidos o que foi fundamental para que todos os seus descendentes pudessem solicitar a cidadania austríaca.
Meu pai gostava de mostrar e se orgulhava do documento de naturalização, pois ele continha a assinatura do então Presidente da República, Getúlio Vargas!
De todos irmãos, Anna provavelmente era a mais próxima pois encontrei várias fotos com as anotações de “Anna”, “Anny” e “Schwester” (irmã) no álbum de fotografias de minha avó. Novamente destaco aqui de que estas fotografias só foram encontradas e identificadas em 2019!
Pelo seu registro de batizado sabemos que Anna nasceu em 27 de maio de 1909 na pequena vila de Schrambach, no município de Lilienfeld e casou-se com Heinrich Rypacek em 27 de outubro de 1936 em Sankt Pölten.
Várias fotos de Anna e de Heinrich Rypacek, cujo sobrenome é de origem tcheca, foram encontradas no antigo álbum de Linda Flatschart. Também há um cartão postal enviado de Heinrich Rypacek para Emmerich.
Além das fotos de Anna e Heinrich encontrei a foto de uma menina, com a data de 1946. O primeiro nome, que começa com ”H” está ilegível, mas o sobrenome é Rypacek, talvez fosse uma filha do casal.
Anna faleceu dia 11 de julho de 1990 em Amstetten, importante município da Baixa Áustria que fica a cerca de 80 Km de Lilienfeld. Amstetten ficou conhecida mundialmente após o triste episódio de um psicopata quer manteve sua filha em cativeiro por 24 anos.